Ausente do Jornal Nacional, Marina se reúne em sigilo com a GloboAparecer mais, cada vez mais, no Jornal Nacional. Esta foi a tática que o PV adotou para dar visibilidade à senadora Marina Silva (AC), pré-candidata do partido à Presidência da República. Nesta sexta-feira (5), o plano foi apresentado pela própria Marina ao vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, durante almoço na sede da emissora, no Rio de Janeiro. |
Por André Cintra“O encontro não foi anunciado pela assessoria da senadora nem constou da sua agenda oficial de candidata. Ela está no Rio desde anteontem e vai embora amanhã. Antes da visita, a assessoria distribuiu sua agenda de atividades diárias, sem referência à reunião com a direção da Globo”, registra neste sábado (6) a Folha de S.Paulo, em matéria assinada pelo repórter Sergio Torres. |
Por uma razão pouco ou nada óbvia, a Folha relativiza o tête-à-tête Marina-Marinho. Tanto que o flerte não é citado no título da matéria (“Para tornar campanha visível, Marina sobe tom contra corrupção”) nem no subtítulo (“PV avalia que campanha precisa de visibilidade para aproveitar momento em que o PSDB patina”). |
A menção ao almoço quase top secret só aparece no sétimo parágrafo do texto, depois de longo um blablablá sobre “aumentar o tom das propostas de combate à corrupção e manter referências religiosas em seus pronunciamentos”. Só então o jornal da família Frias revela o “x” do problema: “O presidente do PV fluminense, Alfredo Sirkis, queixou-se que, desde a conferência do clima de Copenhague, em dezembro, Marina não aparece no Jornal Nacional, principal noticiário televisivo do país”. |
Uma forcinha |
Da Folha, pelo menos, Marina não pode reclamar. Convidada a receber a medalha Joaquim Lavoura na Câmara Municipal de São Gonçalo (RJ), a senadora não reuniu mais que algumas dezenas de testemunhas para ouvir um discurso insosso e genérico: “Marina agradeceu citando um trecho bíblico e fez discurso contra corrupção. Às 80 pessoas presentes, disse que o Brasil gasta 3% de todo o seu dinheiro em educação e outros 3% em corrupção — e defendeu que toda essa verba seja revertida à educação”. |
Mas como, Marina, como pôr isso em prática? É nesse ponto que há a intercessão do jornal paulista — do qual a senadora é colunista semanal. “Questionada pela Folha sobre como implementar a proposta caso eleita, (Marina) disse ver dois modos: o fortalecimento de órgãos fiscalizadores e tribunais de contas, e a transparência. ‘Uma ferramenta fundamental é a transparência. Não se deve ter segredo em relação ao uso do dinheiro público’.” |
Segundo o relato da Folha, deu-se que Marina foi adiante e se soltou: “A candidata disse que não pensa em fazer campanha de ataque a partidos e candidatos acusados de corrupção. ‘Não quero fazer campanha em cima da desgraça de ninguém. Mas aqueles que cometeram erros deverão pagar por eles’, disse, pregando ainda o financiamento público de campanha como forma de evitar a corrupção”. |
Agora, sim, mais de 80 pessoas já sabem como combater a colossal corrupção brasileira — graças à pré-candidata, graças à Folha de S.Paulo. É preciso esperar para ver se as lágrimas verdes de Alfredo Sirkis e Marina Silva sensibilizam os humores de Fátima Bernardes, Willian Bonner, Ali Kamel et caterva. Se as tratativas com a TV Globo fracassarem, resta a Marina o consolo de ver que a Folha tentou dar uma forcinha. |
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